O silêncio é item de luxo para nós, moradores dessa cidade caótica, onde vivemos amontoados uns nos outros. Especialmente se você, assim como eu tem uma vizinhaça bem agitada.
No andar debaixo do meu prédio, há uma babá que adora cantar (muito, mas muito alto e muito, mas muito mal). A moradora do apartamento em frente ao meu curte ouvir música no volume máximo e é "eclética" (vai de Mallu Magalhães a Lulu Santos). Às vezes, acho que meu vizinho de cima joga pingue-pongue ou faz coleção de quadros para martelar tanto a parede. A área externa do edifício ao lado está em obras, daquelas com britadeiras e bateção que ecoam direto para o nosso cérebro. Eu disse que começa às 9h e que é de segunda a sábado? Por fim, em algum andar bem próximo à janela do meu quarto, ouço sempre um pianista. Vocês devem pensar que não é tão ruim, afinal ouvir piano pode ser bem relaxante. Mas não quando tudo que ele faz é ensaiar partes difíceis repetidamente em alta velocidade e sempre nas manhãs de domingo.
O bom é que, cedo ou tarde, esse povo todo se aquieta. Dai entram em cena os caminhões de lixo e os que retiram caçambas, os baladeiros animadíssimos e a louca que berra "meu nome não é Maria" madrugada adentro. É tanto barulho que estão aprimorando a tecnologia de um fone de ouvido para "tocar silêncio", que tenta cancelar os ruídos. Socorro, vou fugir para as montanhas!
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